Apneia atrapalha o sono de 30% dos paulistanos
(Entrevista concedida ao Jornal do Advogado- CAASP- OAB)
Dormir bem é sinônimo de qualidade de vida. À medida que envelhecemos, diversos fatores vão contribuindo para o comprometimento daquelas sagradas horas de descanso, e a apneia do sono é o mais comum. Doença que desorganiza os movimentos respiratórios, provocando obstrução total ou parcial da respiração enquanto dormimos, a apneia foi tema de recente pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que apontou um índice de 30% de prevalência entre moradores da cidade de São Paulo. Importante: ronco e apneia são coisas diferentes.
Quando dormimos de “barriga para cima”, a gravidade faz com que a musculatura “atrapalhe” a passagem do ar, provocando o ronco. “O ronco é comum na população, mas nem todo mundo que ronca sofre de apneia. A apneia envolve ronco intenso, que chega a incomodar quem está por perto”, explica o pneumologista Pedro Genta, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor). Em boa parte das vezes, para cessar o barulho basta o indivíduo deita-ser de lado.
Existem pessoas pré-dispostas a um estreitamento da garganta, processo frequentemente associado ao excesso de peso. Um indivíduo com esse problema pode sofrer obstruções total (apneia) ou parcial (hipoapneia) das vias aéreas durante o sono. A obstrução total causa uma interrupção no fluxo do ar de 10 a 20 segundos. Já a obstrução parcial provoca uma breve queda do fluxo de ar, que não chega a interromper a respiração.
A avaliação do histórico clínico do paciente é indispensável para caracterização da apneia, doença que pode contribuir para o desenvolvimento de hipertensão arterial. O tratamento da apneia pode, inclusive, minimizar a hipertensão e diminuir os riscos de derrame e enfarte do miocárdio “Os estudos produzidos até o momento ainda não encontraram os mecanismos exatos que provocam a apneia do sono em cada individuo. Atualmente, nós trabalhamos com alguns fatores de risco que podem indicá-la, e o que pode provocá-la com mais intensidade durante o sono”, aponta o especialista. Os médicos associam alguns hábitos e ocasiões às crises de apneia: ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, períodos de resfriado com congestão nasal, privação de horas de sono e aumento da poluição são alguns deles.
Para um diagnóstico preciso, indica-se um exame chamado polissonografia, pelo qual o corpo do paciente é conectado a sensores da atividade cerebral, dos batimentos cardíacos, da saturação do oxigênio no sangue e do esforço respiratório, entre outros parâmetros. Com estas avaliações nas mãos, o médico tem condições de determinar o tipo de apneia e o seu grau de risco. Considera-se um individuo apneico aquele que apresenta mais de cinco episódios a cada hora de sono.
Tratamento
Existem diversos tipos de tratamento da apneia do sono. Na hora da escolha, o médico leva em consideração uma série de fatores, como histórico clínico, grau da doença, variações anatômicas do pescoço, nariz e faringe, peso etc. A maioria dos pacientes que apresentam ronco e apneia simultaneamente é orientada a utilizar o CPAP (Continuous positive airway pressure), um aparelho que injeta ar com pressão positiva contínua nas vias aéreas, fazendo com que as crises cessem na medida em que aumenta a pressão do ar. Outra modalidade de tratamento é por meio de um aparelho intraoral, que posiciona a língua mais à frente nos casos em que ela costuma acomodar-se de forma retraída. Há ainda o método cirúrgico, mediante a retirada das amígdalas, o qual Genta não recomenda: “Ainda há muita controvérsia quando ao tipo de paciente que teria a apneia curada por meio de amigdalectomia”.
De modo coadjuvante atua o exercício físico. Em geral, o indivíduo que sofre de apneia está acima da sua faixa ideal de peso. “Nós dizemos que a atividade física é uma forma coadjuvante de tratamento porque até o momento não há provas cientificas a respeito de sua eficácia sozinha. Pelo alto número de casos de pacientes obesos apneicos, recomenda-se a prática de atividade física”, esclarece. Exercícios aeróbicos - como a corrida, o ciclismo e a natação - são bons companheiros do sono, já que contribuem para o bom condicionamento do sistema cardiorrespiratório.
A síndrome apneica pode estar presente também nas crianças. O aumento das amígdalas e das adenoides, comum na fase de crescimento, dificulta a respiração, com isso a criança passa a respirar pela boca, fator causador de apneia. Se não tratadas, essas crianças têm grandes chances de sofrerem de apneia também na idade adulta. O tratamento para os pequenos é um pouco diferente do indicado aos adultos, e exige trabalho em conjunto entre o médico e outros profissionais de saúde, como dentistas e fonoaudiólogos.
Poluição pode agravar o quadro
Outro estudo, este publicado em 2010 pela Escola de Saúde Pública de Harvard, estabeleceu relação entre a incidência de apneia, os ambientes de temperaturas elevadas e os altos níveis de poluição, como ocorre nas metrópoles. De acordo com a pesquisa, as elevações de temperatura em qualquer época do ano e a poluição do ar aumentam o risco de apneia. O estudo foi feito durante o verão americano e fez os cientistas constatarem que há 13% mais chances de se ter quadros de apneia em tais condições. Isso ocorre porque os poluentes causam inflamações nas vias aéreas. “Este é um estudo bastante interessante. Já é sabid0 que a poluição pode trazer diversos problemas respiratórios. Mas, ao meu ver, são necessários testes mais constantes e, de preferência, nas condições ambientais do nosso país”, salienta. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a maior concentração de poluentes do ar não acontece no verão, mas no inverno.
*Reportagem publicada originalmente no Jornal do Advogado
(Entrevista concedida ao Jornal do Advogado- CAASP- OAB)
Dormir bem é sinônimo de qualidade de vida. À medida que envelhecemos, diversos fatores vão contribuindo para o comprometimento daquelas sagradas horas de descanso, e a apneia do sono é o mais comum. Doença que desorganiza os movimentos respiratórios, provocando obstrução total ou parcial da respiração enquanto dormimos, a apneia foi tema de recente pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que apontou um índice de 30% de prevalência entre moradores da cidade de São Paulo. Importante: ronco e apneia são coisas diferentes.
Quando dormimos de “barriga para cima”, a gravidade faz com que a musculatura “atrapalhe” a passagem do ar, provocando o ronco. “O ronco é comum na população, mas nem todo mundo que ronca sofre de apneia. A apneia envolve ronco intenso, que chega a incomodar quem está por perto”, explica o pneumologista Pedro Genta, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor). Em boa parte das vezes, para cessar o barulho basta o indivíduo deita-ser de lado.
Existem pessoas pré-dispostas a um estreitamento da garganta, processo frequentemente associado ao excesso de peso. Um indivíduo com esse problema pode sofrer obstruções total (apneia) ou parcial (hipoapneia) das vias aéreas durante o sono. A obstrução total causa uma interrupção no fluxo do ar de 10 a 20 segundos. Já a obstrução parcial provoca uma breve queda do fluxo de ar, que não chega a interromper a respiração.
A avaliação do histórico clínico do paciente é indispensável para caracterização da apneia, doença que pode contribuir para o desenvolvimento de hipertensão arterial. O tratamento da apneia pode, inclusive, minimizar a hipertensão e diminuir os riscos de derrame e enfarte do miocárdio “Os estudos produzidos até o momento ainda não encontraram os mecanismos exatos que provocam a apneia do sono em cada individuo. Atualmente, nós trabalhamos com alguns fatores de risco que podem indicá-la, e o que pode provocá-la com mais intensidade durante o sono”, aponta o especialista. Os médicos associam alguns hábitos e ocasiões às crises de apneia: ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, períodos de resfriado com congestão nasal, privação de horas de sono e aumento da poluição são alguns deles.
Para um diagnóstico preciso, indica-se um exame chamado polissonografia, pelo qual o corpo do paciente é conectado a sensores da atividade cerebral, dos batimentos cardíacos, da saturação do oxigênio no sangue e do esforço respiratório, entre outros parâmetros. Com estas avaliações nas mãos, o médico tem condições de determinar o tipo de apneia e o seu grau de risco. Considera-se um individuo apneico aquele que apresenta mais de cinco episódios a cada hora de sono.
Tratamento
Existem diversos tipos de tratamento da apneia do sono. Na hora da escolha, o médico leva em consideração uma série de fatores, como histórico clínico, grau da doença, variações anatômicas do pescoço, nariz e faringe, peso etc. A maioria dos pacientes que apresentam ronco e apneia simultaneamente é orientada a utilizar o CPAP (Continuous positive airway pressure), um aparelho que injeta ar com pressão positiva contínua nas vias aéreas, fazendo com que as crises cessem na medida em que aumenta a pressão do ar. Outra modalidade de tratamento é por meio de um aparelho intraoral, que posiciona a língua mais à frente nos casos em que ela costuma acomodar-se de forma retraída. Há ainda o método cirúrgico, mediante a retirada das amígdalas, o qual Genta não recomenda: “Ainda há muita controvérsia quando ao tipo de paciente que teria a apneia curada por meio de amigdalectomia”.
De modo coadjuvante atua o exercício físico. Em geral, o indivíduo que sofre de apneia está acima da sua faixa ideal de peso. “Nós dizemos que a atividade física é uma forma coadjuvante de tratamento porque até o momento não há provas cientificas a respeito de sua eficácia sozinha. Pelo alto número de casos de pacientes obesos apneicos, recomenda-se a prática de atividade física”, esclarece. Exercícios aeróbicos - como a corrida, o ciclismo e a natação - são bons companheiros do sono, já que contribuem para o bom condicionamento do sistema cardiorrespiratório.
A síndrome apneica pode estar presente também nas crianças. O aumento das amígdalas e das adenoides, comum na fase de crescimento, dificulta a respiração, com isso a criança passa a respirar pela boca, fator causador de apneia. Se não tratadas, essas crianças têm grandes chances de sofrerem de apneia também na idade adulta. O tratamento para os pequenos é um pouco diferente do indicado aos adultos, e exige trabalho em conjunto entre o médico e outros profissionais de saúde, como dentistas e fonoaudiólogos.
Poluição pode agravar o quadro
Outro estudo, este publicado em 2010 pela Escola de Saúde Pública de Harvard, estabeleceu relação entre a incidência de apneia, os ambientes de temperaturas elevadas e os altos níveis de poluição, como ocorre nas metrópoles. De acordo com a pesquisa, as elevações de temperatura em qualquer época do ano e a poluição do ar aumentam o risco de apneia. O estudo foi feito durante o verão americano e fez os cientistas constatarem que há 13% mais chances de se ter quadros de apneia em tais condições. Isso ocorre porque os poluentes causam inflamações nas vias aéreas. “Este é um estudo bastante interessante. Já é sabid0 que a poluição pode trazer diversos problemas respiratórios. Mas, ao meu ver, são necessários testes mais constantes e, de preferência, nas condições ambientais do nosso país”, salienta. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a maior concentração de poluentes do ar não acontece no verão, mas no inverno.
*Reportagem publicada originalmente no Jornal do Advogado